domingo, 14 de abril de 2013

8 de março



Dia pouco, vida louca, existência breve, mente insana, alma inocente.
A mansidão da minha insensatez dentro da minha perturbada normalidade.
E assim vou carregando comigo marcas sofridas de tanto tentares...
A história já carrega consigo marcas de várias feridas onde heroicos e nobres se sobrepõem 
Mas é lamentável a necessidade de valer-se na vida, pois só retrata o caos em que nos organizamos. Sintomas de incapacidade política.
Quisera eu viver naquele mundo admirável... Onde a religião é o prazer, a causa a distração, e nossas obrigações cabe apenas em achar um lugar em si próprio, e não numa sociedade.
Minha vida é tédio a maior parte do tempo e brandamento de súbito.
Por vezes é vida, mas por mais vezes é morte.
Culpa minha? Culpa dos outros? Culpa de Deus?
Só sei que a cada dia que passa, a única convicção que tenho é que deveríamos ser como se já não fôssemos e viver como se já não pudêssemos, pois o resto não nos pertence e nem nunca nos pertencerá. 

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Demian

A vida de todo ser humano é um caminho em direção a si mesmo, a tentativa de uma caminho, o seguir de um simples rastro. Homem algum chegou a ser completamente ele mesmo, mas todos aspiram a sê-lo, obscuramente alguns, outros mais claramente, cada qual como pode. Todos levam consigo, até o fim, viscosidades e cascas de ovo de um mundo primitivo. Há os que não chegam jamais a ser homens, e continuam sendo rãs, esquilos ou formigas. Outros que são homens da cintura para cima e peixes da cintura para baixo. Mas cada um deles é um impulso em direção ao ser. Todos temos origens comuns: as mães, todos provenientes do mesmo abismo, mas cada um - resultado de uma tentativa ou de um impulso inicial- tende ao seu próprio fim. Assim é que podemos entender-nos uns aos outros, mas somente a si mesmo pode cada um interpretar-se.

                                                                              Herman Hesse.

Dor


O que dói não é a solidão, é a espera de alguém.
O que dói não é estar aqui, é não ter razão para estar aqui.
O que dói não é a morte da vida, é a morte do viver.
Dói  o pó,
Dói a causa,
Dói o nada,
Dói o lamento,
Dói o ser.
Dói o que eu vejo,
Dói o que eu sinto,
Dói morrer.
Dói não ter saída...
Dói,dói,dói...
apenas dói.

Dói o hoje.

Mas o que é dor?
Minha dor é interna.
Não fere a pele
Me faz morrer dentro de mim e outrora me faz nascer em mim
É lasciva, pulsante, me esquenta e me queima
É um sopro
O único sopro de  vida que tenho em mim agora
A dor me salva.

domingo, 10 de março de 2013

Mais uma dose de Nome Próprio

''Ninguém vive a paixão impunemente. A intensidade é uma doença contagiosa. Eu não concebo a vida sem contágios. 

Sei sobre a dor da solidão, a falta de ar e a perda de chão.   Sei que mais nada tem importância. Sei que o mundo vai ficar pequeno e perder o sentido.''


''Fico pensando que ninguém se cura de nada, nunca. E que a dor são poros por onde transpira a escrita. Tudo sobra em mim e ao mesmo tempo não há nada em mim, nem ninguém.''

''Não sei se é ausência de pernas ou de mim. Não sei se é ausência de chão. Eu sei que é um amolecimento das formas. Um derramar das coisas. Um desmaio. Um suspiro sem corpo. Um bicho.
Parece ser um bicho no vento tanto quanto pessoa na tempestade. Ou não ser, não ser nada e vazio.
Nada me resta senão me perder em você. Senão morrer um pouco. Senão gozar sem saber do que se goza.'' 

''Hoje eu vou procurar a palavra que se perdeu. Que escapuliu entre meus dedos. Que escorreu por minhas mãos. Eu hoje vou conter nas letras esse fluxo que não para de me levar para longe daqui. Eu hoje vou ficar quieta, enquanto frases se formam, enquanto parágrafos inteiros se fixam na tela. Alguns fogem, e eu deixo que fugam. Porque sei que posso recupera-los  melhores adiante. Não me desespero mais. Encontrei o leito por onde escoar o meu excesso.''


Definitivo, como tudo o que é simples. 
Nossa dor não advém das coisas vividas, 
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. 
   
Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos 
o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções 
irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado 
do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter 
tido junto e não tivemos,por todos os shows e livros e silêncios que 
gostaríamos de ter compartilhado, 
e não compartilhamos. 
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade. 
   
Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas 
as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um 
amigo, para nadar, para namorar. 
   
Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os 
momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas 
angústias se ela estivesse interessada em nos compreender. 
   
Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada. 
   
Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo 
confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, 
todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar. 
   
Por que sofremos tanto por amor? 
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma 
pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez 
companhia por um tempo razoável,um tempo feliz. 
   
Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um 
verso: 
   
Se iludindo menos e vivendo mais!!! 
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida 
está no amor que não damos, nas forças que não usamos, 
na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do 
sofrimento,perdemos também a felicidade. 
   
A dor é inevitável. 
O sofrimento é opcional...
    
                                                                            Carlos Drumond de Andrade

sábado, 9 de março de 2013

as palavras já dizem o quanto é especial esse filme


 
                                                                                                  

"Minha dor é interna, não curte a pele, não estraga o corpo. Mas meus olhos me delatam. A dor estava toda ali dentro, os olhos sérios negros e fundos. Dor de quem já viu tudo e não espera mais nada. De quem ficou sozinho a vida inteira, encarcerado em si mesmo. De quem já viu o nada, o vazio absoluto, a ausência de cor e dor e calor e música e sentimento, já foi engolido e cuspido pelo nada incontáveis vezes, e será de novo, e de novo, e mais uma vez, até a última, quando só sobrar um caroço morto, um esqueleto sem vida. Depois de ver o nada, nada mais espera. Não é como se você ficasse insensível ou entorpecido, nada disso. Aumenta o apetite por sentimentos, aumenta a intensidade, porque você sabe que ele pode chegar a qualquer momento, como uma nuvem, uma peste silenciosa, e acabar com tudo. A dor salva do nada. Só ela salva."


''Nada nunca da certo de vez, eu sei. Tudo termina sempre acabando, só o fim permanece. Fim eterno de todas as coisas. Então me dissolvo antes do fim.''

''Os dias passam, meu corpo apodrece, corpos apodrecem. Por isso nada sou senão palavras.
Quando escrevo me afirmo, quando falo ganho sentido, quando penso ganho corpo. Meu corpo palavra.''